Dicas Campinas

Não, a vida não é apenas “Namastê”. Uma reflexão sobre a pandemia.

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Quando algo da nossa vida muda drasticamente e tão repentinamente, como aconteceu, vem junto a ansiedade, o medo do desconhecido.

Mas aí a poeira vai abaixando, nossos pés vão ficando firmes e então, nos acostumamos àquela nova vida.

Eu estou nesta fase do isolamento social. Eu nunca imaginaria que algum dia todos nós precisaríamos ficar em casa, sem contato externo, que a maioria dos comércios seriam obrigados a fechar. Se me contassem isso antes, eu pensaria: “Até parece! Só se o mundo estiver acabando”.

Então, a pandemia chegou. Comércios fecharam as portas, pessoas dentro de suas casas, muitas delas desesperadas sem saber como pagar as contas. Saudades: da família, dos amigos, de lugares. Saudades do tempo em que podíamos nos abraçar, pegar o carro para visitar alguém na mesma hora.

O mundo está mudado. E quando digo o mundo, é ele inteiro mesmo. Não é forma de dizer.

Quantas pessoas, das mais diversas etnias estão passando pelas mesmas coisas que nós? Alguns mais intensamente, outros menos. A Pandemia é muito séria e temos sim que dar o devido peso e importância a ela. Não podemos fingir que nada está acontecendo para sofrer menos ou olhar apenas para a nossa casa, sem nem querer saber do que acontece lá fora. Não podemos fechar os olhos para o grande número de pessoas morrendo ou sendo internadas e ficar vivendo no nosso mundo, procurando apenas as coisas boas e aprendizados que estamos tendo.

Não, a vida não é apenas “Namastê”.

Mas também acho que se não nos agarrarmos à esperança, ao otimismo, às coisas boas que temos hoje, não sobrevivemos. Como tudo na vida, o ideal é, sempre, acharmos o equilíbrio, né?

Procurarmos sim o lado bom, mas sem ignorar a realidade.

Eu mesma tenho pensado na quantidade de coisas que aprendi, vivi e enxerguei nesse último mês.

O que eu mais reclamava de mim mesma antes desta quarentena, era no quanto eu não conseguia viver o presente com presença (olha só que contradição!), no quanto eu queria estar mais com os meus filhos, sendo que eu já passava a maior parte do tempo com eles. Porque sentia então esta ausência em mim?

Porque estou sempre com a agenda cheia. E se ela não estiver cheia, eu procuro preenchê-la. E então, no final do dia, me sinto super satisfeita e produtiva de um lado, e super insatisfeita e ausente do outro, porque todo o tempo que passava com meus filhos, estava com a cabeça em outro lugar. E se assim estou, não vivo nada de verdade, nada no presente, nada com presença.
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Mas como é difícil encontrar o equilíbrio! Não posso ser duas pessoas, não posso querer ser 100% em duas coisas ao mesmo tempo. Podemos e devemos fazer o que gostamos e continuarmos sendo presentes pros nossos filhos, mas 100% em ambos, impossível. E tudo bem! Precisamos apenas escolher sermos completas em um deles, ou nos dividirmos em ambos, sem nos sentir devedora de algo.
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Acontece que nestes dias de isolamento tenho me sentido muito mais calma, já que já não tenho mais aquela agenda lotada que eu mesma lotava. E sabe o que é melhor? Tenho amado isso. Amado pensar que no dia seguinte não tenho agenda para cumprir, se não o cronograma que fiz para passar o dia com os meus filhos. Sem pressa, sem hora, sem ausência.
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Claro que ainda preciso ter MEU tempo de vez em quando, achar meus minutos no dia para aquela série, aquele trabalho que gosto ou aquele respiro que me revigora. Mas já me sinto mais próxima das minhas crias e do meu marido, o que também traz mais atritos, claro. Mas prefiro assim.
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Percebo no olhar deles a felicidade de estarmos juntos, o tempo todo. O olho sorri! Crianças nos ensinam todo santo dia sobre o ritmo da vida, sobre presença. E nós, na correria, insistimos em não aprender.
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Colhi mais amoras no último mês que em três anos morando neste condomínio. Lembrei da minha infância, de quando passava horas em uma amoreira na casa de veraneio dos meus avós.
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Fiz caminhadas matinais com meus três filhos, jogamos mais bolinhas para nossa cachorra do que nunca. Acampamos na garagem, fizemos ginástica juntos, yoga, meditação. Cozinhamos mais do que o normal: bolos, biscoitos, waffles, pães. Cuidamos das flores, regamos, tiramos os galhos que já não vivem mais. Fizemos pic nic na varanda, churrasco de segunda-feira, usamos roupas de sair para ficarmos em casa. Elas insistem em usar os vestidos que mais gostam, para passar o dia na sala! Quem sou eu para dizer “não” e explicar algo errado como: temos que usar essas roupas que amamos apenas em momentos especiais? E o que seriam esses “momentos especiais”, não é mesmo?
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Quanto de tudo isso as crianças nos ensinam? Se tivesse vivendo uma quarentena sem filhos, seria totalmente diferente, mais monótono, mais do mesmo. Não organizaria um pic nic, com toalha estendida no chão, waffles fresquinhos e pães recheados feitos por nós minutos antes. Não passearia na rua aqui na frente para respirar ar fresco, nem deitaria de noite para ver as estrelas. Não faria isso, porque nós adultos deixamos de fazer as coisas da forma mais legal, ou não faria tudo isso porque simplesmente o dever estaria me chamando para algo que me fizeram acreditar ser mais importante do que viver com presença esta vida que está passando.

Texto: Thaís – @agenteconversa
Edição: Rebecca Lorenzetti – @beccalorenzetti

Não, a vida não é apenas “Namastê”. Uma reflexão sobre a pandemia.

Adriana Duarte

Nascida e criada em Campinas, Adriana é formada em Marketing, e sempre esteve atenta a tudo que está acontecendo na cidade e região. Então, resolveu criar o Dicas Campinas para compartilhar todas as experiências vividas neste ambiente que tanto ama.

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